quarta-feira, 3 de abril de 2013

Sebastião Rezende


Cheio de energia e carisma, Sebastião Rezende, 64 anos, é um dos mais novos alunos do Projeto. Muito animado, disse que ouviu falar do Longevidade Saudável na televisão, e logo se animou. Matriculado nas aulas de dança de salão, musculação e coral,  diz que fica feliz de ir a universidade, pois dessa forma seus músculos “vão ficar mais fortes”.

Segundo ele, o projeto é um forma não só de se exercitar e fazer amigos, mas de revitalizar o passado.  Passando de gerente dos recursos humanos do Detran para funcionário da prefeitura de Cuiabá, até candidato das eleições de 2012 foi. “Mas eu perdi. Agora estou trabalhando para tirar minha aposentadoria. Antes nunca tinha tempo para fazer exercícios, cuidar de mim mesmo. Parece que agora na melhor idade eu tenho mais vontade de viver, tenho mais motivos para dar prioridade ao que realmente é importante”.

Catarina Magalhães da Silva


Tímida, mas muito ativa, Catarina de Magalhães da Silva, 56 anos, é diarista e também é veterana no Projeto Longevidade Saudável. Começou em 2010, mas devido a problemas na coluna, teve que interromper as atividades em 2012. Mas este ano voltou com energia extra. “É bom demais! eu sempre fui bem ativa, mas agora tenho tempo pra fazer essas atividades, fazer amigos, estudar. É muito bom!”.

Com 15 irmãos, Catarina não teve a oportunidade de concluir os estudos quando era criança, mas trabalhou desde muito cedo para ajudar no sustento da casa. Hoje, viúva, ainda trabalha de diarista pela manhã, e divide suas tardes entre os exercícios do projeto e aulas de matemática, português, dentre outros.  “Eu acordo cinco horas da manhã, deixo o almoço pronto, vou pro meu serviço, e depois venho aqui pra aula de musculação e dança de salão. Gosto bastante”.

Maria José


Acostumada com os trabalhos pesados da fazenda, Maria José, 59 anos, teve que vender suas terras depois da morte do marido e do filho. Veio para Cuiabá, onde tinha constantes dores de cabeça e na coluna. “Olha, eu não conseguia fazer nada sem sentir dor. Era dor em tudo quer lugar”, disse ao Joronline.

Em 2010, uma amiga lhe contou que participava de diversas atividades na UFMT, sem custo nenhum. Interessada, Maria José pediu para que a amiga verificasse se havia alguma vaga sobrando. Dito e feito: desde então Maria participa dos exercícios, dedicando-se às aulas de dança de salão, hidroginástica e coral.

“Ave Maria, é bom demais. A gente faz muitas amizades, tanto que a gente anda na rua, vê uma pessoa e fica pensando: ‘ de onde eu conheço ela mesmo?’. E é da universidade!”.

sábado, 23 de fevereiro de 2013

A história por trás das histórias


(Foto: Guilherme Silveira)

Do primeiro dia em que pisei na redação do jornal Diário de Cuiabá até o último, quando decidi sair, o mais difícil sempre foi pensar em uma pauta. As matérias diárias não precisavam de muito esforço criativo, mas sempre requisitavam muito suor. Mas ao contrário de muita gente iniciando na carreira de repórter, tive a sorte de ter editores que encorajavam outro tipo de matéria: as especiais. Eles diziam que não tinha problema se fosse demorar um mês para apurar ou que eu iniciasse o texto com uma citação do livro “Madame Bovary” (Gustave Flaubert, 1856): se a matéria fosse boa, devia ser feita.
Mesmo assim, depois de alguns meses naquela rotina de jornal diário, a frustração começa a bater e a gente busca todos os meios possíveis para se distrair. Para mim, isso consistia em chegar em casa e olhar sites de humor e curiosidades, como o 9gag. E foi exatamente neste site que a ideia para a  matéria “conte sua história por um real” surgiu.
Em uma foto postada no site, um homem sentado no meio fio segurava uma placa de papelão onde estava escrito “one penny for your story” (um centavo por sua história). Achei uma ideia legal e criativa e pensei que seria algo interessante de se fazer em Cuiabá. Ver o que as pessoas que transitam diariamente pelas praças carregam consigo e o que a cidade exala todos os dias.
A ideia ficou guardada em mim por um bom tempo, pois não achei que seria possível fazer uma matéria desse tipo em um jornal. E quando, na reunião de pauta, a editora de cidades, Caroline Rodrigues, me perguntou se eu tinha alguma sugestão, fiquei hesitante em dizer pela milionésima vez “não, não pensei em nada”. Então, ao invés disso, disse:
-Bom, tenho uma ideia, mas acho que não dá pra fazer aqui...
No que Carol, como a chamamos, logo me questionou sobre o que era e o porquê eu achava que não dava pra fazer. Segundo ela, era uma boa ideia que poderia ser colocada em prática sim, mesmo em um jornal diário. Anselmo, o editor chefe, também encorajou essa matéria. Para ele, o jornalismo diário deveria ser sempre criativo e inovador.
Depois de alguns dias, decidimos que eu e o fotógrafo Guilherme Silveira iríamos para as praças do centro da cidade  para realizar a matéria. Guilherme, também novo na profissão, empolgou-se com a ideia e ajudou a dar a ela a forma que teve.  Pegamos cerca de trinta reais na redação e fomos para a praça da República, onde, de início, ficamos sentados sem ter certeza do que fazer.
Estávamos sentados há cerca de quinze minutos quando o primeiro contador de histórias veio sentar-se ao meu lado.  O nome dele era Bruno . Tinha 17 anos. Era usuário de drogas e, para sustentar o vício, já tinha assaltado pessoas três vezes. Mas com naturalidade e simpatia, estava na praça aquela tarde vendendo meias, na tentativa de mudar de vida. Quando terminou seu relato, Bruno pegou sua moeda de um real, retribuiu com um sorriso e foi sentar-se em outro lugar.
Eu fiquei impressionada por um menino tão jovem ter contado uma história já trágica de forma tão natural para dois estranhos. E pelo olhar que Guilherme me lançou, ele  compartilhava da minha opinião. Com o relato de Bruno, comecei a ficar animada e pensar que esta pauta daria certo, no final das contas. 
Mudamos de lugar. A maioria das pessoas simplesmente olhava a placa de papelão, trocavam olhares e sorriam, mas não paravam para conversar. Algumas atiravam uma pergunta apressada em nossa direção, mas se acanhavam quando pedíamos a história. Mas aos poucos as pessoas foram se acostumando com a nossa presença e sentavam-se ao nosso lado para contar algum caso inusitado ou situação marcante de suas vidas.
No entanto, a todo momento tínhamos que nos fazer presentes. Algumas pessoas, por mais que quisessem falar, precisavam de um empurrãozinho. Foi o caso da história que, para mim, foi a mais significativa: a do picolezeiro José Burdelake. Um de seus companheiros de ponto, um vendedor de frutas, nos disse que o senhor José tinha uma história que nos faria chorar.
Fomos atrás do senhor Burdelake, que falou de todos os jeitos que a história não daria para ser contada daquele jeito, que era muito comprida, que era muito triste, que era     muito isso e muito aquilo. Ao mesmo tempo, enquanto ele dava desculpas, contava partes da história, que acabou relatando por inteira, com muito humor e simpatia. Foi uma figura muito marcante. E quando desatou a falar, não parou mais.
Depois de passar cerca de duas horas nas praças, já sabíamos o que devíamos fazer: mudar sempre de lugar, olhar as pessoas nos olhos e as vezes dar um empurrãozinho para que deixassem a timidez de lado. Por isso fiz algo que não costumo fazer nas matérias do dia a dia: gravar. 
Geralmente, prefiro escrever o que as pessoas falam. Aquele dia, no entanto, era necessário andar de um lado para o outro, fazer as entrevistas em pé, segurando vários objetos ao mesmo tempo. E mais que isso: as pessoas precisavam do contado visual para se abrir com estranhos. Precisavam sentir que estava sendo ouvidas. Muitas pegavam o gravador da minha mão e deixavam ele perto da boca enquanto falavam. Outros preferiam que eu segurasse o objeto perto deles.
De todas as pessoas que entrevistamos, nem todas queiram o dinheiro. Parte dos entrevistados queriam apenas falar, compartilhar seus problemas ou buscar ajuda.
Às 18 horas, depois de cerca de quatro horas andando pelas três praças do centro, voltamos para a redação, de onde fui direto para casa, sem escrever uma linha. Passou-se três dias sem que eu trabalhasse as entrevistas, até que eu e a editora Carol sentamos para planejar como seria a matéria. E o que ficou combinado: um abre de 50 linhas, explicando o que foi feito aquele dia, mais três histórias de minha escolha, com 30 linhas cada.
A seleção das histórias que seriam publicadas foi a parte mais difícil, e também a mais divertida. Todas as histórias eram boas, mas algumas tinham um charme a mais.  Escrevi a matéria de madrugada, e ria sozinha reouvindo os relatos. Queria publicar todas, mas tinha algumas preferidas. Mesmo assim, passavam da cota combinada. Até que me decidi pelas seguintes histórias: a do picolezeiro José Bauderlake, que mais me marcou, a do jardineiro Siberino Santino Calixto, tragicamente engraçada pela humildade e bom humor com que foi contada, e a do vendedor Reginaldo Bonifácio da Silva, a quem tinha prometido ajuda.
Queria que as histórias chegassem ao leitor da mesma forma que chegaram a mim: com a espontaneidade que foram contadas, o vocabulário descontraído e refletindo a personalidade sempre contagiante de seus donos. Por isso, entre aspas, transcrevi exatamente o que cada pessoa falou, corrigindo somente os erros gramaticais que ficariam difíceis de se entender no papel.
O texto em que deveria contar minha experiência aquela tarde foi revisado linha por linha com a editora. E foi reescrito duas vezes. A matéria foi publicada no final de semana seguinte a sua conclusão.
As histórias que não foram publicadas continuam guardadas nos arquivos de áudio em meu computador. Há também uma lista com o nome de todos os entrevistados em uma agenda, com várias rabiscos de quando eu estava lutando para escolher as três que seriam publicadas. Os planos para elas são muitos, mas todos incertos.
(foto: Guilherme Silveira)








sábado, 25 de agosto de 2012

Cadernos e águas vivas.


Hoje estava pensando sobre como eu sempre achei que o melhor presente que alguém poderia ganhar é um livro. Mas conversa vai e conversa vem, descobri que existe outro presente que é imbatível: um caderno.

"draco dormiens nunquam titillandus" ou "Nunca cutuque um dragão adormecido”. Lema do brasão de Hogwarts, estampado na capa do caderno. 


O que me fez pensar nisso foi o que ganhei hoje a noite da minha amiga Renata, que parte para a Espanha na semana que vem. Ela na verdade comprou o livrinho no parque de Hogwarts, nos Estados Unidos. E isso já faz muito tempo. Somente hoje que ela teve coragem de desencaixotar o caderninho.

Eu comecei a escrever um diário exatamente no dia 13 de janeiro de 2003. Na época eu tinha 10 anos, faltando um mês para fazer 11. Apesar de ter episódios que me causam muita vergonha ao reler, a maioria deles são bastante engraçados. Algumas coisas parecem que foram ontem que aconteceram, mas na verdade foram há nove anos. Já faz muito tempo.

Tem um muito divertidinho: Viajando com minha família por Ilhéus, eu fui queimada por águas vivas durante três dias consecutivos. Mas claro que nunca me passou pela cabeça deixar de entrar no mar. Ao invés disso, eu fiz uma tabela monitorando o aparecimento das águas vivas durante a semana toda. Também fiz um desenho da infratora, caso as autoridades resolvessem investigar o caso.

E tudo isso só foi possível porque eu ganhei o meu primeiro diário, por assim dizer (eu não escrevia todos os dias), de presente de natal dos meus pais. Desde então viraram um vício, extremamente necessários para a manutenção da minha saúde mental. E como se pode perceber, eu já escrevi vários. E continuo escrevendo até hoje. E graças a minha querida amiga, já tenho um caderninho para as desventuras do ano que vem.
É sempre muito bom reler essas coisas. E saber que pedaços de mim não ficaram perdidos no tempo.


sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Quem realmente é fiel à UFMT.

Se você acha que são os alunos, está enganado.
Se você pensa que são os professores, não poderia estar mais errado. (na verdade poderia sim, mas ok, vamos manter a rima)
Os funcionários também não são, seu terceiro chute também está equivocado.
Quem é realmente fiel à UFMT é um gato.
Não um cara muito bonito, o animal mesmo.
E também não é UM gato. São vários.
Vivem por lá mesmo, recebem comida de quem mora ou trabalha nas redondezas. São curiosos e nem se estressam com as pessoas.

Os gatos da UFMT estão disponíveis pra receber amor e carinho dos alunos e funcionários, assim que a greve acabar, é claro. Até lá, demonstrações de afeto e preocupação pelo desenvolvimento do pensamento científico estão suspensos por tempo indeterminado.

Sabe quando falam que os animais são parecidos com seus donos? Pois é,está claro de quem este felino herdou toda a energia.
Como bons acadêmicos e pesquisadores, os gatos são muito curiosos. Também adoram a atenção da mídia.
Aliás, feliz aniversário de três meses de greve.
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Fotos: Stéfanie Medeiros.


quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Diário de bordo 2: Companheiros de labuta

Sinceramente, não posso afirmar que trabalho há muito tempo, pois entrei no mercado há mais ou menos um ano e alguns poucos meses. Mas mesmo assim, até hoje não conheci uma única pessoa que consiga fazer tudo o que ela precisa mo expediente. Resumindo, todo mundo tem que levar trabalho pra casa. Por favor, note que eu estou dizendo "TEM" que levar, mas é claro que muitos não levam.
É muito mais divertido tomar umas "brejas" enquanto se reclama da falta de emprego por aí... O que falta na verdade é falta de trabalhar. Não estou dizendo que os primeiros empregos que a gente encontra vão ser o emprego dos sonhos e que é isso e ponto final. Mas se esforçando em um, talvez vejam o valor que a gente pode ter, e decidam nos dar aquilo que queremos.
Mas o que eu sei sobre a vida?
A minha sorte é que, mesmo que eu tenha que fazer algumas coisas em casa, eu tenho uma companheira fluente em várias línguas e mestre em diversos assuntos pra me ajudar.

Quando parece que não vai rolar, o bicho vem com a ladeira e faz as coisas fluírem.

E se tudo der errado, existe sempre o bom e barato miojo. Eu já tentei, mas é impossível viver só de salada. Ou só de miojo. Mas quando a preguiça reina e o orçamento aperta, é uma solução bem prática.

Fotos: Stéfanie Medeiros